Você já ouviu falar dos bebês reborn? Provavelmente sim. Essas bonecas hiper-realistas ultrapassaram as fronteiras da internet e ganharam destaque até em programas de televisão.
Os bebês reborn se tornaram uma verdadeira febre. Muitas pessoas que os adquirem passam a tratá-los como se fossem filhos de verdade: escolhem nomes, dão banho, levam para passear, simulam partos e, em alguns casos, chegam até a procurar atendimento médico alegando que a “criança” está doente. Para quem está de fora, essa prática pode parecer absurda, mas para quem vive essa experiência, é algo sério e significativo.
Essa construção de uma realidade paralela por parte dos cuidadores dos reborn gerou grande repercussão e polarização, especialmente nas redes sociais.
De um lado, há defensores da prática que apelam para o direito à liberdade individual e argumentam que as bonecas podem oferecer benefícios emocionais e psicológicos. Do outro, estão os críticos, que enxergam tudo isso como uma banalização da maternidade real, um sinal de infantilização de adultos, e ainda levantam debates sobre desigualdade de gênero e outros aspectos que exploraremos ao longo deste artigo.
O que é bebê reborn?
Para quem ainda não conhece, os bebês reborn são bonecas artesanais incrivelmente realistas, criadas para se parecer ao máximo com um bebê humano verdadeiro. Produzidas com técnicas artísticas minuciosas, elas recebem camadas de pintura, aplicação de fios de cabelo um a um, veias artificiais, peso aproximado ao de um recém-nascido e outros detalhes que reforçam sua aparência natural.
O termo em inglês “reborn”, que significa “renascido” em português, remete à transformação de uma boneca comum em um bebê recém-nascido hiper-realista.
Essa prática surgiu nos Estados Unidos e na Europa durante os anos 1990. No entanto, foi a partir de 2008 que os bebês reborn começaram a ganhar popularidade no Brasil, impulsionados principalmente pela internet e por eventos de artesanato que ajudaram a divulgar essa forma de arte.
No começo, esse tipo de boneca era algo exclusivo para colecionadores e artistas plásticos. Com o tempo, contudo, elas se tornaram mais acessíveis e hoje é possível encontrá-las à venda em lojas especializadas, conquistando um público cada vez mais amplo.
O boom atual dos bebês reborn
Se a prática de possuir bebês reborn existe no Brasil desde 2008, por que só agora, em 2025, eles se tornaram um verdadeiro fenômeno de popularidade? O que explica esse crescimento repentino de interesse?
Essa é a dúvida de muita gente diante da nova onda que tomou conta das redes sociais nos últimos meses. Vídeos de pessoas que assumem o papel de mães de bebês reborn e cuidam das bonecas como se fossem filhos reais viralizaram.
Há registros de “mães” levando suas bonecas para consultas médicas, alimentando-as com mamadeiras, utilizando-as para obter prioridade em filas e transportes públicos, e até casos de pessoas perdendo o emprego devido a esse comportamento. Essas situações têm chamado atenção pela sua natureza incomum e, para muitos, exagerada.
As redes sociais foram o palco principal dessa viralização, o que deu origem a uma série de discussões acaloradas, processos judiciais e até propostas de lei no Congresso Nacional, com o objetivo de regular ou restringir essa prática.
Como se trata de um fenômeno recente, ainda não há estudos científicos que expliquem com profundidade o que está por trás dessa tendência. O que sabemos, até o momento, é que a sociedade está dividida: de um lado, pessoas que exigem reconhecimento e direitos em nome dos seus “filhos” reborn; do outro, aqueles que consideram esse comportamento um exagero e uma distorção da realidade, já que se trata apenas de bonecas, não de seres humanos.
A questão que fica é: de qual lado você está?
Essa febre nas redes sociais pode ter múltiplas origens. Pode ser reflexo de distúrbios emocionais ou psicológicos, uma moda de consumo passageira ou até uma estratégia para atrair atenção, algo comum no mundo digital, onde muitos buscam fama a qualquer custo.
Em meio a isso tudo, talvez não seja tão simples julgar quem mergulhou nesse universo de forma tão intensa. Afinal, vivemos uma era em que o contato com o irreal se torna cada vez mais comum do que as interações humanas genuínas.
Há quem utilize inteligência artificial como terapeuta, mantenha relações afetivas com bonecas infláveis ou se envolva emocionalmente com assistentes virtuais. Diante disso, será que é justo criticar quem trata um bebê reborn como se fosse real?
Por que homens podem e mulheres não?
Embora todo esse cenário em torno dos bebês reborn mereça atenção e uma análise cuidadosa, inclusive do ponto de vista psicológico, surge uma pergunta incômoda: por que homens adultos que colecionam carrinhos ou passam horas jogando videogame não são julgados com a mesma severidade que mulheres que “brincam” com bebês realistas?
A resposta pode estar na desigualdade de gênero, que continua enraizada em muitos aspectos da nossa sociedade, inclusive neste.
Pense por um instante: enquanto muitas mulheres são ridicularizadas por tratarem seus bebês reborn com carinho e cuidado, quando foi que vimos homens sendo criticados na mesma proporção por demonstrarem afeto ou apego a hobbies que também remetem à infância?
Exatamente, é difícil lembrar. Porque, na prática, isso raramente acontece.
Essa diferença de tratamento revela mais do que um simples julgamento social. Ela expõe um preconceito contra tudo o que é associado ao universo feminino e uma resistência em aceitar que o cuidado e o afeto também são formas legítimas de expressão emocional.
Quando mulheres se envolvem emocionalmente com bonecas reborn, logo são rotuladas como “infantis”, “dependentes” ou “instáveis”. Já homens que colecionam brinquedos ou se dedicam aos games são frequentemente elogiados por manterem viva sua paixão, vistos como pessoas que cultivam seu “lado jovem”, e dificilmente são alvo de críticas.
A verdade é que, socialmente, existe uma tolerância muito maior para os interesses dos homens, mesmo quando esses interesses têm raízes igualmente lúdicas ou escapistas.
Ainda assim, isso não significa ignorar os limites. É fundamental reconhecer quando o envolvimento com um bebê reborn ultrapassa o ponto saudável e começa a comprometer aspectos importantes da vida da pessoa, como sua convivência social, independência emocional ou equilíbrio psicológico.
Nesses casos, a ajuda de um psicólogo pode ser essencial para compreender os motivos por trás desse apego intenso e trabalhar formas mais saudáveis de lidar com sentimentos de solidão, luto ou carência.
Por que muitas mulheres têm adotado bonecas como filhos?
Como já citado no artigo, é difícil identificar ao certo por que muitas pessoas, em sua maioria mulheres, têm adotado este comportamento com os bebês reborn. No entanto, uma teoria muito citada é a sensação de controle total na relação. Quando você se relaciona com algo que não é humano, não haverá rejeição e conflitos. Você irá ditar as regras, projeta o amor que sempre sonhou, com mais facilidade consegue criar ilusões e fantasias acerca de um amor que só parte de você mesmo.
Existem as questões mais profundas, para preencher um vazio, muitas mulheres buscam nessas bonecas um refúgio. Seja de um relacionamento que não durou, o luto por um bebê perdido, a dificuldade em engravidar ou o fato dos filhos terem saído de casa para viver a própria vida.
Também é importante lembrar que algumas mulheres simplesmente têm afeição por bonecas, sentem prazer estético ou emocional em cuidar de algo que represente o amor, o carinho e a delicadeza, valores muito ligados à maternidade.
Deu para notar que os motivos são diversos, é preciso saber separar o que de fato é terapêutico e o que é somente uma tendência.
Quando ter um bebê reborn é saudável?
Embora atualmente os bebês reborn sejam alvo de memes e brincadeiras nas redes sociais, você sabia que eles também são amplamente utilizados em tratamentos psicológicos e psiquiátricos?
Especialmente em áreas que envolvem questões emocionais, luto, saúde mental e envelhecimento, os reborns não substituem a terapia tradicional, mas podem funcionar como um importante recurso auxiliar quando utilizados sob supervisão profissional.
Veja algumas das principais situações em que essas bonecas são usadas terapeuticamente:
1. Terapia para luto materno e perda gestacional
Mulheres que perderam filhos, seja por aborto espontâneo, morte neonatal ou infantil, podem encontrar no bebê reborn uma forma simbólica de processar o luto. O reborn auxilia na criação de um vínculo temporário, facilitando o processo de aceitação e elaboração da dor ao longo do tempo.
2. Infertilidade e frustração com a maternidade
Para mulheres que, por motivos biológicos ou pessoais, não conseguem ter filhos, o reborn pode representar uma forma simbólica de experimentar a maternidade, ajudando a preencher um vazio emocional e oferecendo conforto durante a reorganização da vida afetiva.
3. Autismo e transtornos do desenvolvimento
Em algumas abordagens com crianças ou adultos com TEA (Transtorno do Espectro Autista), o bebê reborn pode ser usado para desenvolver habilidades sociais, empatia, expressão emocional e rotinas de cuidado.
4. Alzheimer e outras demências em idosos
O uso de bebês reborn em casas de repouso ou instituições de longa permanência tem mostrado benefícios no tratamento de pessoas com Alzheimer ou demência. Promovendo redução da agitação e da ansiedade; estímulo ao afeto e à memória emocional; melhoria na interação social e no comportamento.
5. Depressão e ansiedade
Em alguns quadros depressivos, especialmente em pessoas que se sentem sozinhas ou inúteis, o reborn pode ajudar a reativar sentimentos de cuidado e propósito. Ele é usado como parte do processo terapêutico, sempre com orientação psicológica, para que não se torne um mecanismo de isolamento.
Mas atenção! O uso do bebê reborn para tratamentos deve ser acompanhado por profissionais de saúde mental, como psicólogos ou terapeutas ocupacionais. Ele é um recurso complementar, não uma terapia em si. Quando usado de forma descontrolada ou sem orientação, pode dificultar a separação entre fantasia e realidade.
Quando o excesso de cuidado se transforma em fantasia, é hora de procurar apoio
Ao ler este artigo, ficou claro que cuidar de bebês reborn pode ser somente um hobby, uma diversão passageira ou, em alguns casos, um sinal de alerta para a saúde mental, certo?
É normal que pessoas que enfrentam perdas, solidão ou dificuldades emocionais criem vínculos com objetos simbólicos. O problema aparece quando essa ligação se torna tão intensa que substitui o contato social, atrapalha as responsabilidades do dia a dia ou impede a pessoa de distinguir o que é fantasia e o que é realidade. Viver exclusivamente para cuidar de uma boneca, evitando o mundo ao redor ou acreditando que ela é um filho de verdade, pode ser um sinal de desequilíbrio emocional que precisa de atenção especializada.
A psicoterapia pode ajudar a identificar as raízes dessa fuga emocional, que muitas vezes está ligada a lutos não superados, traumas, inseguranças ou medo de rejeição. O objetivo não é tirar o bebê reborn da vida da pessoa, mas sim ajudar a encontrar um equilíbrio saudável entre o afeto simbólico e a vida real, promovendo a retomada das relações sociais, da autoestima e da autonomia emocional.
Por isso, se o apego ao bebê reborn deixou de ser apenas um passatempo ou um consolo e virou uma necessidade constante e difícil de controlar, é importante encarar isso com seriedade. Procurar apoio psicológico não é motivo de vergonha, é um gesto de coragem e um cuidado fundamental com a sua saúde mental.
Como psicóloga, estou aqui para ajudar você a entender suas emoções e superar de uma vez por todas a solidão que tem te afetado.
Você pode agendar uma sessão ligando ou entrando em contato pelo Whatsapp, no número: (27) 99978-0990. Nossas consultas podem ser online ou presencialmente, como preferir.
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