Muito se ouve sobre autismo em crianças, não é verdade? No entanto, você sabia que a descoberta do espectro em adultos tem crescido cada vez mais? Ainda é um assunto pouco falado e debatido, mas é uma questão que precisa ganhar uma maior visibilidade, pois autismo na vida adulta existe e é uma condição para a vida toda. Compreender como ele funciona nessa fase e como lidar tornará a vida de quem convive com o espectro mais saudável, garantindo uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos.
O transtorno do espectro autista, também conhecido como TEA, não é caracterizado como uma doença, é uma variação do funcionamento típico do cérebro, está dentro dos transtornos do desenvolvimento neurológico e o mais comum são seus sintomas se manifestarem durante a infância, nos primeiros anos de vida.
Os principais sintomas são déficits em funções de interação, sociabilidade e comunicação e a presença de comportamentos repetitivos e atividades restritivas. O TEA é identificado em alguns níveis e cada indivíduo o apresenta de forma particular, por isso, muitas vezes pode passar despercebido se não for dada a devida atenção ao caso, principalmente na fase adulta da vida, que é normalmente acometida pelo grau 1.
Sem um diagnóstico exato e sem um amparo necessário para viver melhor com a condição, muitas pessoas passam anos lutando contra algo que não sabem nem o que é, se sentindo diferente dos outros, mas sem uma explicação para isso.
O que leva ao diagnóstico tardio?
O que tem acontecido é: indivíduos que hoje já estão na fase adulta estão se descobrindo no espectro autista porque na infância não tiveram este diagnóstico feito. A falta de acesso a informações, à saúde e até mesmo a falta de aporte financeiro dos pais não permitiam que este indivíduo, quando criança, fosse levado a um especialista. A resistência e o preconceito em relação às condições neurodivergentes também eram e ainda são obstáculos na rotina de muitas famílias.
Por estes motivos, hoje, pessoas adultas que se sentem “diferentes” dos demais tem buscado entender porque são assim. E a maioria dos diagnósticos tardios está relacionada ao grau mais leve do transtorno, pessoas que não apresentam uma deficiência intelectual muito grave e conseguem levar uma vida autônoma e independente.
Como é realizado o diagnóstico?
Como acabamos de mencionar, o autismo descoberto em adultos costuma ser mais leve, por serem consideradas pessoas mais tímidas e introvertidas, muitos vivem com a condição de uma forma “mascarada”, o que isso quer dizer?
Nós, adultos, temos a capacidade de controlar e ajustas o nosso próprio comportamento quando percebemos que não é bem aceito, ou visto como inadequado por demais pessoas.
Aprendemos então a desenvolver mecanismos para lidar com os sintomas e as situações do cotidiano, ou seja, sentimos os sinais no dia a dia, mas por achar que é somente uma timidez ou um “jeito de ser”, criamos disfarces para ser aceito na sociedade e viver melhor em relações interpessoais.
Por consequência vamos vivendo dessa forma, sempre nos readequando para “caber” nos lugares. Porém, como o espectro afeta diretamente as habilidades sociais e de comunicação, muitos indivíduos procuram especialistas da saúde mental justamente com essas queixas: por não conseguirem se conectar com as pessoas, ou fazer uma relação durar. Muitos também buscam ajuda porque os prejuízos causados pelas dificuldades de socialização podem causar outros transtornos como a ansiedade, depressão, TDAH e TOC.
Essas pessoas querem entender por que isso acontece ou porque elas agem de uma forma diferente dos outros, e como resultado acabam descobrindo que fazem parte do transtorno do espectro autista.
Além de questões psicológicas, o autismo também pode trazer sintomas físicos, sensibilidades sensoriais, seletividade alimentar, distúrbio do sono, epilepsia, sensibilidade a cheiros, toques, luzes ofuscantes, música alta, entre outros.
O processo para o diagnóstico é normalmente feito por meio de consultas com especialistas: psiquiatras e neurologistas; avaliações neuropsicológicas; exames e terapias ocupacionais.
Se o paciente for realmente diagnosticado com autismo, ele é encaminhado para profissionais que irão ajudá-lo a lidar melhor com a nova descoberta. Sem esse auxílio adequado essas limitações tendem a ficar mais intensas com o passar do tempo, o que significa que será cada vez mais difícil amenizar os sintomas e por consequência a vida da pessoa é prejudicada, nas suas relações, no trabalho, na escola, etc.
Sinais que indicam que você possa ser um adulto no espectro autista
Mais acima no texto mencionamos alguns sintomas que os adultos com autismo costumam sentir, para um melhor entendimento vou te apresentar com exemplos mais alguns sinais e dificuldades.
Quando estão se socializando muitas vezes sentem dificuldades de entendimento de sinais verbais e não verbais, isto é, se sentem em apuros por não conseguir compreender aquilo que é dito de forma não explícita, podem não entender uma piada, uma metáfora ou ironia. Para eles é preciso explicar as situações nos mínimos detalhes, para um melhor entendimento.
Não conseguir reconhecer e identificar sentimentos e emoções dos outros, não perceberem quando alguém demonstra tristeza, raiva ou alegria, são outros exemplos. Podem parecer ingênuos, que não vem malícia nas coisas, justamente porque para eles tudo é muito literal.
Não se sentem à vontade ao receber e dar afeto, evitam beijos, abraços, carinho e toques. Também possuem dificuldades em demonstrar seus sentimentos ou enxergar o sentimento de outras pessoas.
Crises nervosas e agitação também fazem parte da rotina, que podem se apresentar como forma de ansiedade em situações novas ou desconhecidas para o indivíduo, como sair da sua rotina habitual.
São hiperfocados, podem falar sobre um assunto específico por horas e costumam utilizar linguagem muito formal e direta, em outras palavras, sempre será claro e objetivo numa conversa, podendo até mesmo se passar por uma pessoa grosseira ou estúpida. Lembrando que nada disso é intencional, pessoas dentro do espectro agem dessa maneira, pois não conseguem perceber que sua sinceridade realista pode machucar o outro, justamente porque ela mesma leva a vida de uma forma muito prática e objetiva.
Geralmente pessoas autistas sentem uma sensibilidade maior, não suportam barulhos e ambientes muito agitados, podem ter dificuldades em usar determinados tipos de tecidos, sofrem com muita sensibilidade à luz e ao serem tocados e também podem ter restrições alimentares, como, por exemplo, a textura, cheiro ou gosto de determinadas comidas.
Por outro lado, alguns autistas possuem um desempenho acima do comum em determinada atividade ou área, sendo considerados muito talentosos por isso. Existem aqueles que são muito bons e memorizar figuras e desenhá-las exatamente iguais são na realidade, os que são extremamente inteligentes na área de exatas, entre outros casos.
Entenda os níveis e suas particularidades
A finalidade da classificar os níveis do espectro não é rotular as pessoas que se encontram nele, mas sim fornecer tanto ao paciente quanto ao profissional um melhor entendimento dos sintomas experimentados e esclarecer o tipo de tratamento e acompanhamento mais adequado para melhorar sua qualidade de vida.
É realizada uma avaliação minuciosa da intensidade dos sintomas, resultando assim em um perfil individual que identifica habilidades e necessidades específicas.
Para você entender melhor o nível que alcança a maioria dos adultos (nível 1), confira abaixo as características de cada um:
Nível 1 – Autismo Leve: É o nível mais suave dentro do espectro autista. As pessoas que se enquadram nessa categoria enfrentam alguns obstáculos na interação social e na comunicação, porém, essas dificuldades não as impedem de conviver em sociedade.
Podem demonstrar comportamentos repetitivos, como balançar as mãos ou o corpo, e possuem interesses mais restritos e intensos, como colecionar objetos específicos ou se concentrar excessivamente em um tópico que lhes interessa.
Apresentam desafios para iniciar e manter uma conversa e interpretar expressões faciais. No entanto, esses obstáculos não são tão limitadores em suas interações sociais.
Nível 2 – Autismo Moderado: Pessoas no nível 2 experimentam adversidades mais intensas na comunicação e na interação social.
Dispõem de todas as características do nível 1, só que de forma mais acentuada, tornando necessário um apoio extra para lidar melhor com as situações sociais.
Indivíduos neste nível também enfrentam dificuldades consideráveis em lidar com mudanças de rotina, que podem se apresentar como obstáculos significativos em suas vidas diárias.
Nível 3 – Autismo Severo: Esse é o nível mais grave. Engloba todas as características do nível 1 e 2 além de apresentar dificuldades mais profundas em comportamentos repetitivos.
Indivíduos nesse nível podem ter um perfil comportamental muito rígido, tornando difícil a adaptação às mudanças.
As habilidades de comunicação, tanto verbal quanto não verbal, são gravemente afetadas, o que resulta em problemas relevantes na interação social e um impacto negativo na cognição.
Indivíduos com autismo nível 3 tendem a se isolar socialmente, sendo fundamental o apoio e incentivo para ajudá-los a conviver de maneira mais adequada na sociedade.
O autismo da infância é o mesmo da vida adulta?
Pode-se dizer que sim. Pois um adulto que se descobriu dentro do espectro nessa fase, foi uma criança autista, a diferença é que os sintomas naquela época não se manifestaram de forma considerável ao ponto de necessitar de uma avaliação médica, ou o mesmo não teve acesso aos profissionais que poderiam diagnosticá-lo.
Os desafios enfrentados por uma criança autista diferem dos enfrentados por um adulto autista. Especialistas dizem que quanto mais cedo se tem um diagnóstico é melhor para o indivíduo, maiores são as chances de uma vida mais funcional e satisfatória.
Quando descoberto na fase adulta, é possível que algumas pessoas precisem de um apoio maior, já que não tiveram isso na infância. Ou então mais suporte em áreas específicas, como se adaptar a uma nova rotina de trabalho ou em demonstrar melhor seus sentimentos.
É importante ressaltar que o autismo não vai piorando conforme o indivíduo envelhece. Cada um segue o seu nível e suas particularidades, independentemente da idade. O que pode acontecer é que em determinados momentos da vida os sintomas podem se intensificar momentaneamente, em situações de estresse ou de mudança de rotina, mas já é algo esperado por quem convive com a condição.
Com um acompanhamento regular esses momentos de pico podem ser controlados e assim que a pessoa se acalma, o desconforto vai embora e o comportamento habitual retorna.
Por que é importante diagnosticar, mesmo na fase adulta?
Muitas pessoas acreditam que o diagnóstico feito na fase adulta não é tão importante, pelo fato de a grande maioria dos casos serem de nível 1 e porque a pessoa já convive de certa forma bem em sociedade, mesmo com suas limitações.
Porém, a falta de diagnóstico e tratamento adequado pode tornar a rotina e convivência dessa pessoa um verdadeiro desafio, ela pode acumular prejuízos sociais que irão desencadear outros transtornos. Algo que realmente acontece, muitos autistas adultos descobrem a condição porque buscam tratamentos com profissionais para outros problemas psicológicos, e durante o tratamento entendem que o que desencadeou tudo isso foi o fato de ser uma pessoa que faz parte do transtorno do espectro autista.
Um diagnóstico completo fecha todo o ciclo de incompreensão e dúvidas que se desenvolveram ao longo dos anos na vida do indivíduo. É inusitado pensar algo assim, mas sente-se um certo alívio quando o diagnóstico de autismo vem. A partir disso ele consegue se compreender melhor e entender suas limitações e formas de ser e agir. Além disso, sua vida ficará muito mais fácil agora com um tratamento direcionado para o real problema.
A descoberta também propicia a inclusão da pessoa em grupos de apoio, onde ela encontra seus similares, divide experiências, angústias e perspectivas de vida.
A invisibilidade do autismo adulto
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC em inglês), cerca de 1% da população mundial (em torno de 75 milhões) é de autistas adultos.
Aqui no Brasil é difícil encontrar dados oficiais sobre o assunto, mas com base nas estatísticas do CDC, presume-se que aproximadamente 2 milhões de brasileiros estão dentro do espectro autista.
Falando de crianças e adolescentes, mesmo tendo um grande avanço nos diagnósticos de autismo no Brasil, ainda é complicado para muitas famílias terem acesso aos profissionais da área.
Imagina para os adultos! Quantos brasileiros devem estar dentro do espectro e não sabem disso? Justamente porque não reconhecem os sintomas ou acreditam ser apenas características da sua personalidade.
É preciso fortalecer ainda mais a conscientização do autismo no Brasil e estender o debate para além do diagnóstico infantil. Além de investimentos em políticas públicas que garantam à população diagnósticos e tratamentos de qualidade.
Isso dará mais voz e visibilidade aos adultos autistas e aos desafios que enfrentam.
Como tratar e lidar com os desafios do autismo na vida adulta?
Conviver com o autismo na vida adulta tem seus desafios, porém, mais desafiador ainda é viver com ele e não saber da sua existência. Tendo um diagnóstico exato, a pessoa que está dentro do espectro consegue ter uma qualidade de vida muito melhor do que antes, pois ela será direcionada ao tratamento adequado para o seu nível.
Para os autistas leves, por exemplo, iniciativas como terapia ocupacional, terapia cognitiva comportamental, fonoaudiologia e impostação de voz, são tratamentos voltados para o desenvolvimento de habilidades de comunicação e interação social.
Já os adultos com autismo moderado e severo precisam de um pouco mais de atenção com terapia ocupacional, fonoaudiologia, terapia de comunicação facilitada (CF), acompanhamento em tarefas simples, terapias que estimulem a interação, o ajuste comportamental e a comunicação, como a terapia ABA, entre outros tratamentos.

Ser diferente é normal!
Você é um autista adulto? Carrega consigo alguns dos sintomas citados no texto e acredita que esteja no espectro autista? Se sente diferente dos demais e acredita que isso está prejudicando de alguma forma seu estilo de vida e relações?
A primeira coisa que você precisa saber é que: ser diferente também é normal! Cada ser humano tem suas vontades, suas manias e seu modo de viver a vida, não se culpe ou fique se prendendo por medo de julgamentos alheios. Todos nós merecemos ser felizes e levar a vida da forma que cada um escolheu.
No entanto, se você sente que essa forma de vida está lhe prejudicando, o ideal é buscar auxílio de um profissional que ajudará a entender melhor o seu eu. O autismo não tem cura, é preciso fazer um acompanhamento para conseguir melhorar suas interações e habilidades sociais, responder melhor mudanças que podem acontecer, gerenciar o estresse causado pelas crises, entre outros obstáculos que possam aparecer.
Como psicóloga e terapeuta cognitivo comportamental posso oferecer tratamentos adequados para o seu nível de autismo que irão tornar a convivência no dia a dia mais leve.
Nessa rotina de acompanhamento, técnicas de autocontrole, autorregulação e aprimoramento de habilidades sociais são ensinadas ao paciente e sua reestruturação mental é reestabelecida, auxiliando o autista a reconhecer suas emoções, cognições e o desenvolvimento de habilidades de convívio social.
Marque uma consulta comigo! Juntos vamos achar o melhor caminho para você enfrentar de cabeça erguida os desafios do autismo na vida adulta.
Você pode agendar sua sessão ligando ou entrando em contato pelo WhatsApp, no número: (27) 9.9978-0990. Nossas consultas podem ser online ou presencialmente, como você preferir.
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